segunda-feira, 13 de maio de 2019

Biografia: Clarice Lispector

Clarice Lispector
Chaya Pinkhasovna Lispector, conhecida por nós como Clarice Lispector, nasceu na República Popular da Ucrânia no dia 10 de dezembro de 1920 e faleceu no Rio de Janeiro no dia 09 de dezembro de 1977. Ela foi uma escritora e jornalista ucraniana, naturalizada brasileira, considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX e a maior escritora judia desde Franz Kafka. Ela se declarava pernambucana. 
Devido a Guerra Civil Russa a sua família perdeu tudo e por conta da perseguição ao povo judeu sua família se viu obrigada a fugir. Ela chegou ao Brasil em 1922 com os seus pais, Pinkhas "Pedro' Lispector e Mania "Marieta" Krimgold Lispector, e duas irmãs, Leah "Elissa" e Tania. Primeiro eles viveram em Maceió e depois se mudaram para Recife. 
Clarice estudou no Colégio Hebreu-Iídiche-Brasileiro, onde aprendeu hebraico e iídiche. Sua mãe estava muito doente e quadro se agravava cada vez mais, para agradá-la Clarice escreveu alguns contos e peças. Infelizmente em 21 de setembro de 1930 Mania veio a falecer, ela foi sepultada no Cemitério Israelita do Barro e em sua homenagem Clarice compôs a sua primeira peça par piano. 
Ainda em 1930 Clarice escreveu sua primeira peça teatral intitulada "Pobre menina rica", mas infelizmente as páginas foram perdidas. No ano seguinte ela enviou para a página infantil do Diário de Pernambuco alguns de seus contos, porém eles não foram publicados, Clarice disse "os outros diziam assim: 'Era uma vez, e isso e aquilo...'. E os meus eram sensações. Eram contos sem fadas, sem piratas. Então ninguém queria publicar.". Ela tinha grande interesse por matemática e começou a dar aulas para os filhos dos seus vizinhos. 
No ano de 1935, ela, seu pai e suas irmãs se mudaram para o Rio de Janeiro. Seu pai queria dar continuidade aos avanços do seu negócio e buscava bons maridos judeus para Clarice e suas irmãs. Elissa e Tania se tornaram funcionárias do setor público. 
No ano seguinte a conclusão do ginásio, Clarice foi estudar direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro, o que muitos consideraram estranho para a época, porém ela tinha o desejo por mudanças sociais. Em 1936 foi estudar no Colégio Andrews e foi nessa época que ela voltou a dar aulas particulares de matemática e português com o objetivo de ajudar na renda da família. Ela também aprendeu datilografia e língua inglesa. 
Em 25 de maio de 1940 foi publicado na Revista Pan o primeiro conto conhecido de Clarice, "Triunfo", onde ela conta os pensamentos de uma mulher abandonada por seu companheiro. Alguns meses depois nesse mesmo ano Pinkhas sentiu fortes dores e precisou fazer uma cirurgia para retirar a vesícula, a cirurgia era considera simples, mas três dias após a operação ele voltou a ter fortes dores e faleceu no dia 26 de agosto de 1940. Tania já estava casada e passou a ser responsável pelas irmãs que foram morar com ela e seu marido. 
Nessa época o Brasil era governado por Getúlio Vargas e a imprensa era estritamente censurada. Clarice estava insatisfeita com o trabalho atual e começou a andar pelas redações de diversas revistas, chegando a revista Vamos Ler!. Lá ela mostrou um de seus contos para Raymundo Magalhães Jr., Clarice recordava a conversa, ele perguntou: "Você copiou isto de quem?". Eu disse: "De ninguém, é meu". Ele disse: "Então vou publicar".
Na data de 10 de outubro de 1940 foi publicado o primeiro texto de Clarice, intitulado "Eu e Jimmy" que tinha uma temática feminista focado na relação entre um homem e uma mulher. Após essa publicação ela procurou entrar em contato com Fontes para conseguir uma vaga definitiva, ele gostou dela e lhe deu o cargo de tradutora na Agência Nacional. Porém esse cargo não existia e ela foi registrada como editora e repórter, era a única mulher que ocupava esse cargo na Agência Nacional.
Foi na Agência Nacional que ela conheceu Lúcio Cardoso, os dois viraram amigos e ela teve uma paixão por ele que não era correspondida, pois Lúcio era homossexual. Essa amizade e outras que ela teve ali fez com que surgissem novas oportunidades para ela.
Em 1° de maio de 1941 ela conheceu Getúlio Vargas enquanto fazia a cobertura da inauguração privada do Museu Imperial em Petrópolis. "Onde se ensinará a ser feliz" foi um artigo publicado no Diário do Povo que falava sobre um evento presidido pela primeira dama Darcy Vargas. O Conto “Trecho” foi publicado pela Vamos Ler! e fala sobre a espera de uma mulher por seu companheiro em um bar. "Cartas a Hermengardo" uma trilogia de textos, no semanário Dom Casmurro, destinado ao público jovem da classe alta, em que uma mulher aconselha um homem a ouvir seus instintos. Diversos de seus contos e textos foram publicados em "A Bela e a Fera" uma coletânea póstuma.
O seu primeiro romance, "Perto do Coração Selvagem", foi inspirado em uma antologia francesa do filósofo Baruch de Espinoza que Clarice leu após um período em que ficou afastada da religião. Diversas leituras de Franz Kafka, também judeu, ajudaram a Clarice a se reaproximar da religião.
Devido a sua amizade com Lúcio Cardoso ela começou a frequentar um grupo de amigos que se encontravam na Cinelândia, no Recreio, algumas pessoas que faziam parte desse grupo eram: Vinicius de Moraes, Cornélio Pena, Rachel de Queiroz e Otávio Faria. Devido ao seu trabalho na Agência Nacional ela também teve a oportunidade de conhecer o poeta Augusto Frederico Schmidt, uma pessoal que ela admirava muito e no qual criaram um laço de amizade que durou até o fim da sua vida.
O livro "Felicidade" de Katherine Mansfield foi o primeiro livro que Clarice comprou com o seu salário de jornalista e o mesmo teve grande influência durante a sua vida.
Depois te ter superado a sua paixão por Lúcio Cardoso, ela começou a se relacionar com Maury Gurgel Valente que era seu colega na universidade e dois queriam se casar. Porém em 1940 Maury tinha sido aprovado no exame par ao serviço estrangeiro, se tornando um diplomata brasileiro e pela legislação era proibido o casamento com uma estrangeira, na época Clarice ainda não tinha sido naturalizada brasileira. A naturalização de Clarice só foi solicitada e concedida depois que ela completou 21 anos.
Através de leituras feitas com o seu amigo Francisco de Assis Barbosa foi que Clarice teve contato com textos escritos por Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.
A sua naturalização foi concedida em 12 de janeiro de 1943, e no dia 23 de janeiro ela se casou com Maury Gurgel Valenta em uma cerimônia civil. Inicialmente eles ficaram morando na casa dos pais de Maury no bairro da Glória e depois se mudaram para sua própria casa no Botafogo.
Dia 03 de maio ela recebeu a sua carteira profissional do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Em dezembro ela e Maury se formaram em direito, mas não foram na cerimônia de colação de grau. Ainda em dezembro de 1943 o seu livro "Perto do Coração Selvagem" foi publicado com mil exemplares. Houve muito burburinho na impressa com a publicação do seu livro, ela recebeu diversos elogias da crítica especializada e foi comparada a escritores europeus como Virginia Woolf, James Joyce, Jean-Paul Sartre e Marcel Proust. Isso irritou Clarice e anos depois ela negou qualquer influência desses autores na sua obra e disse que não tinha lido nenhum livro deles. Chegaram a surgir rumores de que Lispector era um pseudônimo de um escritor famoso. Álvaro Lins criticou negativamente Clarice Lispector e disse que "temperamentos femininos' enfraqueciam a obra.
Em maio de 1944 ela mostrou para Cardoso algumas partes do seu segundo livro intitulado "O Lustre". No inicio de julho desse ano o seu marido recebeu a noticia de que seria transferido para o consulado brasileiro na comuna italiana de Nápoles e no fim do mês eles começaram a longa viagem. Maury e Clarice viajaram separados, porque o primeiro transporte veio apenas para os diplomatas e depois para os seus dependentes. Durante a sua viagem ela parou em diversos lugares como Libéria, Guiné portuguesa, Senegal e Portugal. Em Lisboa ela foi a um jantar oferecido pelo poeta e diplomata brasileiro Ribeiro Couto, e lá conheceu o biógrafo João Gaspar Simões, a romancista Maria Archer e a poeta Natércia Freire, que se tornou uma grande amiga. Depois ela foi para Casablanca, Argel e no dia 24 de agosto chegou Itália. Ela teve permissão para fazer trabalho voluntário no hospital que recebia os soldados de guerra em casos mais graves. Clarice visitou diariamente o hospital, onde escrevia e lia cartas para os soldados e fazia o que eles necessitassem.
Em outubro de 1944 o livro "Perto do Coração Selvagem" ganhou o Prêmio Graça Aranha de melhor romance do ano. E em novembro ela concluiu o livro "O Lustre" que foi publicado pela editora Agir com a ajuda do seu amigo Cardoso.
No ano de 1945 ela intensificou a troca de correspondências com os seus amigos brasileiros, dos quais recebeu cartas e livros de, entre outros, Manuel Bandeira, de quem recebeu poesias completas e poemas traduzidos. Ela passou a reler escritores como Proust, Kafka e a poesia de Emily Brontë, que foi traduzida por Cardoso.
No dia 08 de maio de 1945 ela conheceu o pintor surrealista Giorgio de Chirico, que pintou o seu auto retrato, mas a obra e o artista não agradaram muito Clarice Lispector. Ela fez diversas viagens pela Itália e conheceu o poeta e professor italiano Giuseppe Ungaretti. Em Nápoles, encontrou um cão vira-lata e o adotou, deu ao cão o nome de Dilermando e o mesmo inspira alguns de seus textos.
Em 23 de novembro, Manuel Bandeira enviou uma carta pedindo o segundo romance e alguns poemas para publicação em antologia. Em resposta à leitura desses poemas, ele enviou uma carta criticando fortemente a poesia de Clarice, o que fez com que ela queimasse todos os poemas que havia escrito. Mais tarde, Bandeira lamentou ter feito aquele comentário, dizendo: "Você é poeta, Clarice querida. Até hoje tenho remorso do que disse a respeito dos versos que você me mostrou. Você interpretou mal as minhas palavras [...] Faça versos, Clarice, e se lembre de mim." Por essa época, em suas cartas, Clarice passa a demonstrar saudades do Brasil e inquietação quanto à vida diplomática. Em dezembro, Maury é promovido a cônsul de segunda classe.
O seu livro "O Lustre" foi publicado no inicio de 1946. Entre janeiro de março deste mesmo ano ela foi enviada ao Brasil como correio diplomático do Ministério das Relações Exteriores ao Rio de Janeiro e teve a oportunidade de conhecer pessoas que acabaram marcando a sua vida, Bluma Chafir Wainer, esposa do jornalista Samuel Wainer, Rubem Braga, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino e Paulo Mendes Campos, com quem teve um relacionamento após separar-se de Maury.
Dia 08 de março foi noticiado que Maury seria transferido para Berna na Suíça e no dia 21 de março quando Clarice chegou de volta à Itália à mudança estava pronta. Devido a falsos rumores de que os hotéis em suíços não aceitavam cães ela se viu obrigada a abandonar Dilermando.
Clarice sofreu para se adaptar em Berna, começou a frequentar diariamente os cinemas e começou novas leituras de autores como Henrik Ibsen, Theodore Dreiser, Jean Cocteau e Simone de Beauvoir.
Ela continuou escrevendo e publicando alguns contos no jornal carioca "A Manhã", no suplemento Letras e Artes: "O crime", em 25 de agosto, foi inspirado no abandono de seu cachorro e mais tarde foi reescrito como "O crime do professor de matemática", se tornou o primeiro conto do livro "Laços de Família". E o conto "O Jantar" foi publicado em 13 de outubro de 1946.
Pedro Lispector Valente é o seu primeiro filho e nasceu no dia 10 de agosto de 1948 em Berna na Suíça. Paulo Lispector Valente é o seu segundo filho que nasceu no dia 10 de fevereiro de 1953 em Washington D.C. nos Estados Unidos.
Na infância Pedro se destacada por sua facilidade de aprendizado e bom comportamento, mas na adolescência isso mudou e foi diagnosticado que ele tinha esquizofrenia. Clarice se culpava pela doença do filho e por ter dificuldades em aceitar a situação ela buscou com psicólogos, psiquiatras e até mesmo internação.
Já no ano de 1959 por estar cansada de ver o marido viajar o tempo e ela ter que acompanha-lo, Clarice não queria abrir mão da sua carreira e queria ficar em lugar fixo para cuidar melhor do seu filho, por esses motivos ela e Maury se separaram. Maury ficou na Europa e Clarice veio com os filhos viver permanentemente no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano ela assinou com a coluna "Correio feminino - Feira de Utilidades" do jornal carioca "Correio da Manhã", mas usava o pseudônimo de Helen Palmer. Em 1960 ela assume a coluna "Só para mulheres", do Diário da Noite, como ghost-writer da atriz Ilka Soares.
No dia 14 de setembro de 1966 Clarice Lispector quase morreu após dormir com um cigarro acesso na mão e causar um grande incêndio em seu quarto. Durante três dias ela ficou entre a vida e a morte, quase teve a mão amputada devido aos ferimentos do incêndio e precisou ficar hospitalizada por dois meses.
No ano de 1975 ela participou do Primeiro Congresso Mundial de Bruxaria que aconteceu em Cali na Colômbia. Nesse congresso ela fez uma pequena apresentação e falou sobre o seu conto 'O Ovo e a Galinha" que foi traduzido para o espanhol e fez grande sucesso. Quando retornou ao Brasil, diversos jornalistas descreveram falsas aparições da autora vestida de preto e coberta de amuletos. No fim essa imagem acabou se consolidando e Clarice passou a ser chamada de "a grande bruxa da literatura brasileira".
Em 1977 foi publicado o livro "A Hora da Estrela" e pouco tempo depois, ainda no mesmo ano, Clarice foi internada e detectaram câncer de ovário em estado avançado, não era possível operar e o câncer se espalhou por todo o seu organismo.
Clarice Lispector veio a falecer no dia 09 de dezembro de 1977, um dia antes de completar 57 anos. E mesmo sob efeito dos sedativos, até a manhã do dia do seu falecimento ela continuo recitando frases para a sua melhor amiga, Olga Borelli.


Obras:
Romance
- Perto do Coração Selvagem, 1943.
- O Lustre, 1946.
- A Cidade Sitiada, 1949.
- A Maçã no Escuro, 1961.
- A Paixão segundo G.H., 1964.
- Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, 1969.
- Água Viva, 1973.
- Um Sopro de Vida, 1978.

Novela
- A Hora da Estrela, 1977.

Contos
- Laços de Família, 1960.
- A Legião Estrangeira, 1964.
- Felicidade Clandestina, 1971.
- Onde estivestes de noite?, 1974.
- A Via Crucis do Corpo, 1974.
- O Ovo e a Galinha, 1977.
- A Bela e a Fera, 1979.

Literatura infantil
- O Mistério do Coelho Pensante, 1967.
- A Mulher que Matou os Peixes, 1968.
- A Vida Íntima de Laura, 1974.
- Quase de Verdade, 1978.
- Como Nasceram as Estrelas, 1987.

Crônicas
- Para não Esquecer, 1978.
- A Descoberta do Mundo, 1984.

Correspondências
- Correspondências, 2002.
- Minhas queridas, 2007.

Entrevistas
- Entrevistas, 2007.

Artigos de jornais
- Outros Escritos, 2005.
- Correio Feminino, 2006.
- Só para Mulheres, 2006.

"Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca." 

Referências: 
Wikipedia. Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Clarice_Lispector Acesso em: 13/05/2019. 


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